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Testemunha lança Martyr

Martyr eleva o rock progressivo católico a outro patamar e torna-se referência obrigatória para os amantes do estilo até então carente de novidades.

Martyr eleva o rock progressivo católico a outro patamar e torna-se referência obrigatória para os amantes do estilo até então carente de novidades.

A banda de metal e rock progressivo paulistana TESTEMUNHA lançou recentemente o seu segundo álbum intitulado Martyr. Esse disco chega 6 anos após o lançamento do “Vinde e Vede” e disponibiliza ao público um novo trabalho que traz verdadeiras trilhas sonoras unindo a mensagem das letras ao som de forma única. Percebe-se a influência de gigantes do estilo como Rush e Dream Theater, fazendo das canções verdadeiras obras de arte que ficarão marcadas na história do rock católico.

A produção do disco ficou a cargo dos renomados produtores Marcello Pompeu e Heros Trench do Mr. Som Estúdio. Eles já tem em seu currículo a produção de bandas de referência no mercado cristão como Oficina G3 e Ceremonya e diversas outras do meio secular nacional e internacional como a Korzus, Torture Squad, Hangar entre outras.

Com esse time de peso na produção, já se espera um trabalho excelente com timbres bem definidos e bem gravados. A bateria tem seu destaque com pressão e pegada na medida certa com o baixo colado e fazendo o que cada música pede. Os riffs das guitarras ganham a cena nos momentos certos com as fritações links rápidos bem executados. Os vocais conseguem fazer uma alternância bacana entre as dinâmicas das músicas, como pode ser observado em “Quo Vadis?”. Arranjos de teclado e PADs de sintetizadores dão o toque final ao trabalho instrumental da banda.

O disco contém 11 faixas, sendo a primeira, instrumental de nome Martyrium Testimonium que contextualiza um cenário de tristeza e dor, gerando uma expectativa para as canções que vem a seguir. “Depoimentos de testemunhas” é a tradução literal para a introdução que demonstra correria e choro das mães que tiveram seus filhos assassinados na ação de Herodes (MT 2,16-18). A canção “Sangue dos Inocentes” esclarece um pouco mais a proposta do álbum Martyr e retrata bem o massacre dos primeiros mártires em Belém e a fuga de Jesus para o Egito.

O prenúncio das trombetas da música “Primitiva” revela a história triste dos cristãos que sofreram o martírio nos primeiros anos da igreja. Muitos foram cruelmente mortos ou colocados nas arenas para serem alimentos de leões famintos para diversão de uma plateia apática. “Primitiva, assim nasceu sua igreja forjada com sangue e areia…” A riqueza de detalhes dessa canção, somadas ao instrumental complexo, pesado e bem executado, tornam-na a minha predileta do disco.

Quo Vadis? relata a história de Pedro que foi convidado a seguir o Senhor, desejou ficar caminhando com Jesus, mas foi covarde e O negou. Quando estava para ser morto, ele relembra da sua escolha e pede a luz Cristo ficar com ele no oposto da cruz, pois há relatos que foi crucificado de cabeça para baixo.

A música “Apedrejado” é um relato (Atos 7, 52-60) onde descreve o testemunho de Estevão diante da selvageria dos que o condenam ao apedrejamento. Saulo estava de acordo com a execução (Atos 8,1) e desencadeia uma perseguição à igreja. Prosseguindo nessa história, temos “O Cego e a Luz” que fala “Tuas palavras de amor ferem mais que as espadas” referindo-se ao discurso de Estevão. A luz de Cristo (Atos 9, 1-43) agora vem esclarecer as velhas atitudes de Saulo que passa a ser Paulo, o mártir do Senhor.

“Acta Sincera” segue a mesma linha de “Primitiva”, mas relata a história de Santo Inácio de Antioquia, um bispo que escreveu inúmeras cartas aos fiéis incentivando-os a lutar e morrer pela fé. Ele foi preso e dado como comida às feras. Parte do que disse aos cristãos pode ser entendido como inspiração da letra, conforme abaixo:

“Deixem-me ser a comida das feras, pelas quais me será dado saborear Deus. Eu sou o trigo de Deus. Tenho de ser triturado pelos dentes das feras, para tornar-me um pão puro de Cristo […]. Deixai-me fazer o sacrifício enquanto o altar está preparado. Deixai-me ser presa das feras. É por meio delas que chegarei a Deus.”

A vida e testemunho de Edith Stein, conhecida como Santa Teresa Benedita da Cruz, é o tema da canção “Rastro da Cruz” que relata a tristeza da perseguição aos judeus e cristãos na europa pelo regime nazista em Auschwitz. “Prisioneiro 58” é parte da oração feita pelo Beato Tito Brandsma, também vítima dos horrores da segunda guerra.

Dom Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, capital de El Salvador na América Central, assassinado enquanto celebrava missa é tema da música “Rio Vermelho”. O bispo denunciava as injustiças sociais impostas pelo governo salvadorenho.

A última música do disco é dedicada à terceira parte da mensagem de Nossa Senhora de Fátima que descreve a perseguição aos cristãos por intolerância religiosa. “Silêncio no céu” é inspirada na terceira parte do diário da irmã Dulce revelado ao público há pouco tempo pela igreja.

Uma característica interessante é a utilização de termos em latim que despertam a curiosidade acerca dos seus significados e nos aproxima da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana. Temos em latim o nome do álbum Martyr e as canções Martyrium Testimonium e Quo Vadis? .

Capa do álbum lançado em 30/06/2018

Falando da parte física do disco, a arte mostra o motivo de todos os martírios sofridos durante a história da Igreja Católica: Jesus Cristo. A coroa de espinhos e o nome do álbum já revelam o teor do trabalho. O sangue escorrendo demonstra os sacrifícios dados em testemunho da fé e a folha verde revela a esperança da vida eterna prometida aos que perderam sua vida em favor do evangelho.

Por fim, a ficha técnica do álbum conta com Beto White nos vocais, Marcelo Carboni no baixo e teclados, Márcio Cavalieri nas guitarras e Vinícius Picolli na bateria. Marcello Pompeu teve sua participação registrada nos vocais de “Quo vadis?” além de produzir, gravar, mixar e masterizar juntamente com Heros Trench no Mr. Som Studio na cidade de São Paulo. O design gráfico foi feito por Righini com a foto de capa por Ginosphotos.

Confira o álbum completo da banda nas principais plataformas de distribuição digital ou no YouTube abaixo:

Por Emerson Dutra

Esposo, músico, compositor católico e baixista da banda Voz Eterna.